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Criatividade na fase adulta

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Estudo sobre criatividade na fase adulta

Howard Gruber (1974/1981), aluno do mais ilustre psicólogo do processo de desenvolvimento da inteligência, Jean Piaget, estudou pessoas criativas na fase adulta durante três décadas. Enquanto outros psicólogos se preocupavam em estudar a criatividade com base em grupos de indivíduos e teste simples, Gruber estudou a criatividade de Charles Darwin através dos cadernos de anotações do próprio Darwin durante os anos de 1837 e 1839 e pesquisou também a trajetória e a contribuição de mais de 60 anos dos estudos das ideias de seu mentor, Piaget. Inspirando outros pesquisadores ao estudo de outros indivíduos criativos, resultado, hoje, em algumas generalizações emergentes sobre a criatividade.

Segundo Gardner (1999), os estudos de Gruber permitiram identificar que uma pessoa criativa é capaz prestar atenção, relacionar e filtrar informações sobre diversos fatos, objetos e variáveis espalhadas pelo ambiente organizando o conhecimento de seu interesse, motivado pela curiosidade, sendo ainda capaz de destruir ou ignorar problemas que possam interferir em sua conclusão. Geralmente, esse processo e influenciado por uma metáfora, parábola, uma imagem ampla que permite fazer comparações mentais e extrair conhecimentos e informações que antes estavam ocultas. Um exemplo é a metáfora da árvore ramificada de Darwin que possibilitou criar a teoria de evolução através percepção da história evolutiva dos organismos como uma grande “árvore” ramificada.

Para Gardner (1999 apud Gruber), a criatividade não é um processo acidental ou ato de motivações inconsciente. Os indivíduos criativos são animados e incentivados pela resolução de problemas, filtrando todas as variáveis do ambiente e focalizando nas informações favoráveis para uma solução ou conclusão bem-sucedida do problema. Segundo Gardner (1999, p.299 apud GRUBER)

o indivíduo assemelha-se a um malabarista bem-coordenado, capaz de manter um número de objetos em mente (ou na mão) em um momento particular e que realmente encontra prazer nessa habilidade de executar tal proeza malabarística - embora a meta final de criar novos objetos ou de fazer descobertas novas sempre permaneça reinante.”

Conforme Gardner (1999 apud Gruber), a afinidade com determinados temas, desperta a curiosidade do individuo, que na busca pela compreensão, encontra prazer em descobrir novas informações e em resolver problemas. Prazer tão intenso e satisfatório que o leva muitas vezes a uma jornada solitária com altas chances de fracasso, e devido as ideias diferentes, enfrentam rejeição, abandono e até  vergonha, mas mesmo assim seguem em frente.

Segundo Gardner (1999) a habilidade desses indivíduos em encontrar problemas novos e soluciona-los é um enigma. Para alguns pesquisadores influenciados por Piaget na fase adulta do individuo surge uma habilidade adicional diferente das capacidades pesquisadas por Piaget, a habilidade de encontrar problemas. Essa habilidade estar relacionados com indivíduos como Albert Einstein e Darwin, que na fase adulta criaram novas ideias que causaram uma revolução cientifica.

Outro enigma para Gardner (1999) é se devido aos avanços sociais e intelectuais do individuo durante sua vida a criatividade pode ocorrer com mais frequência durante certas fases da vida, como a crise de meia idade ou se a criatividade pode ocorrer inesperadamente em um individuo. Porém, Gardner (1999) acredita que a criatividade ocorre somente em certas situações combinadas com fatores genéticos, familiares, motivacionais e culturais.

As composições da mente de Mozart

Mozart compôs mais de 600 peças músicas, 41 sinfonias e aproximadamente 40 óperas e missas durante três décadas. Para Mozart, o processo criativo fluía com muita facilidade e rapidez. O que despertou a atenção de diversos pesquisadores. Em uma carta escrita por Mozart ele descreveu seu modo de compor:

Tudo isso incendeia minha alma e, contanto que eu não seja perturbado, meu tema aumenta a si próprio, torna-se metódico e definido, e o todo, mesmo que seja longo, apresenta-se quase completo e terminado em minha mente; então eu posso investigá-lo como quem examina um bom quadro ou uma bela estátua, em um olhar. Não ouço em minha imaginação as partes sucessivamente, mas ouço- as como se fossem todas ao mesmo tempo. Que deleite é isso, não posso contar!” (GARDNER,1999, p.301 apud GHISELIN, 1959, p. 45)

Gardner (1999) questiona como é possível um individuo ouvir algo na mente? Como alguém pode conceber uma composição em sua totalidade e um único momento? Para tentar responder essas pergunta Gardner (1999) faz uma reflexão sobre Mozart. Segundo pesquisadores e escritores Mozart quando recebia uma atividade, pensava e refletia durante muito tempo, experimentava diversas combinações e variações, cantarolava para si mesmo, era muito calmo e prestava muita atenção nos detalhes.

Para Gadner (1999), o fato de Mozart compor com facilidade vinha de sua experiência, de tanto compor ele já tinha esquemas mentais de uma nova peça, apenas “inventava um fragmento novo, entusiasmava-se e, então, buscava integrar esses fragmento a outros aspecto da peça". Assim como, de tanto um indivíduo realizar uma tarefa, ele é capaz de criar um modelo mental genérico e abstrato para ser aplicados a novas tarefas semelhantes, apenas preocupa-se com detalhes e especificidades. Mozart partia dos esquemas mentais abstratos para seções específicas conforme conta seu biógrafo Einstein:

Em uma obra musical de câmara ou em uma sinfonia, ele anota primeiro as vozes principais, os fios melódicos, do início ao fim, saltando, por assim dizer, de linha em linha e inserindo as vozes subordinadas apenas quando ele revisa o movimento em um segundo estágio do procedimento. (GARDNER, 1999, p. 306 apud EINSTEIN,1945, p. 143)

A noção de esquemas mentais facilita a abordagem e o entendimento dos processos mentais da criatividade, porém, não se pode deixar perder a experiência de apreciação de uma obra de arte ou de uma musica de Mozart, nem mesmo de não dar crédito aos talentos musicais de Mozart.