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IHC: Engenharia Semiótica

IHC

Proposta por Souza (1993) para o design de linguagens de interface, tem como base teórica a semiótica, disciplina que estuda signos e linguagens de produção de significado e sentido (Baranauskas & Rocha, 2003; SERG, 2011). A Engenharia Semiótica surgiu na década de 1990, no centro de pesquisa do Semiotic Engineering of Human-Computer Interaction. Publicada internacionalmente a primeira versão em 2005, teve os métodos de investigação para fenômeno de metacomunicação de IHC divulgado em 2009 (SERG, 2011).

Atualmente, com o intuito de tornar as interfaces amigáveis e naturais, e assim, mais fáceis de serem usadas e menos hostis, são utilizados elementos gráficos para representar dados, comandos e funções do sistema, como a imagem de um envelope para representar a função e-mail ou a imagem de uma impressora para representar o comando imprimir (Netto, 2010). A utilização de imagens ou ilustrações, como a de um envelope ou impressora, para vincular o conhecimento que o usuário possui da imagem a um comando ou função do sistema é, de forma simplista, a ideia por traz de um signo. Para Peirce (1992, p.13 apud Silva & Barbosa, 2010), signo é “uma coisa [como a imagem de uma impressora] que serve para veicular conhecimentos de uma outra coisa, que representa [como a função imprimir]” (Silva & Barbosa, 2010, p.80). Em interfaces, um signo é uma mensagem codificada pelo designer para se comunicar com usuário. Existem três tipos de signos: estáticos, dinâmicos e metalinguísticos. Cada tipo de signo enfoca diferentes elementos:

  • Os signos estáticos expressam o estado do sistema, elementos presentes na interface num determinado momento de tempo, como rótulos, imagens, itens de menu, campos e botões de formulários, conteúdo, disposição dos elementos na tela e características dos elementos como tamanho, cor, fonte e outras (Silva & Barbosa, 2010).
  • Os signos dinâmicos expressam as modificações na interface decorrentes das ações dos usuários, de eventos externos - como novo e-mail ou queda da conexão com a internet - ou do passar do tempo; sendo signos dinâmicos as transições de tela, a associação causal entre a escolha de um item no menu e a exibição do diálogo, a ativação e desativação de um botão e o surgimento de dicas de acordo com o comportamento do usuário (Silva & Barbosa, 2010).
  • Os signos metalinguísticos se referem e explicam os outros signos, fornecendo informações de como os outros signos podem ser utilizados durante a interação como manuais, materiais de divulgação, instruções, avisos e mensagens de erro (Silva & Barbosa, 2010).

Na visão da Engenharia Semiótica, a interface de um sistema interativo, é composta por diversas mensagens codificadas pelo designer para comunicar aos usuários os comandos e funcionalidades e como ele pode interagir com o sistema (Baranauskas & Rocha, 2003). Nesse sentido, os sistemas interativos são artefatos de metacomunicação, em outras palavras, um artefato de comunicação sobre comunicação, visto que o designer cria signos para se comunicar com os usuários por meio das interfaces, ou seja, a comunicação entre designer e usuário é mediada pela interface (Baranauskas & Rocha, 2003). Essa problemática é melhor compreendida pelas palavras de Silva & Barbosa (2010):

[Sistemas interativos são] artefatos que comunicam uma mensagem do designer para os usuários sobre a comunicação usuário-sistema, sobre como eles podem e devem utilizar o sistema, por que e com que efeitos (de Souza, 2005a; de Souza, 2005b; de Souza & Leitão, 2009 apud Silva & Barbosa , 2010 p.78)

O processo de metacomunicação, de outra forma, é apresentado na figura a seguir.


Figura 5: Metacomunicação designer-usuário e usuário-sistema (Silva & Barbosa, 2010) p.78)

Dentro desse contexto, o Serg (2011) atenta para o fato de que a mensagem é codificada segundo a visão do designer de quem são os usuários, o que desejam ou precisam fazer, de que forma e por quê. Por isso, para de Souza et alii (1999, p.17), o designer deve enviar uma mensagem para o usuário tendo como objetivos fundamentais responder duas questões:

  1. Qual a interpretação do designer sobre o(s) problemas(s) do usuário? O que o usuário pode fazer?
  2. Como o usuário pode interagir com o sistema interativo para resolver este(s) problemas(s)

Desse modo, uma interface com alta comunicabilidade permite aos usuários, de forma mais eficaz e eficiente, compreender a mensagem do designer e atribuir sentido à sua metamensagem. Para isso, é importante ter em mente o processo de criação de signos, dando importância a relação entre designer e sistemas.

A Engenharia Semiótica é uma teoria explicativa focada na relação entre designers e sistemas, na sua visão um sistema interativo é uma mensagem do designer ao usuário ou, em uma visão mais ampla, uma solução, dentre várias, escolhida de acordo com a interpretação do projetista ou do designer para resolver problemas do usuário. Não existe garantia de que a interpretação do usuário será a objetivada pelo designer porque os sistemas interativos estão submissos a interpretações e decisões do designer ao que seria a melhor opção ao usuário (Netto, 2010).

Desse modo, a Engenharia Semiótica permite que o designer reflita sobre as melhores estratégias comunicativas, a produção de signos eficazes e as consequências e limitações de significados computacionais, visto que os designers não têm como determinar como os usuários interpretarão os signos (Silva & Barbosa, 2010)

Referências: